De um lado, o programa do Governo Federal é uma alternativa à crônica falta de médicos no país. Por outro, um forte cabo eleitoral para 2014
O Programa “Mais Médicos”, do Governo
Federal, tem a pretensão de levar 1.753 médicos para 626
municípios. De acordo com o Ministério da Saúde, 51,3% das vagas
ocupadas estão em municípios de maior vulnerabilidade social do
interior e 48,6% nas periferias de capitais e regiões
metropolitanas, todas elas nas áreas prioritárias do programa.
A
vinda de médicos cubanos para o Brasil para suprir parte da enorme
carência desses profissionais no serviço público levou à fúria a
classe de jaleco branco, a mídia conservadora e os detratores do
governo Dilma. A medida do Governo Federal é corajosa, necessária,
e forte abo eleitoral para 2014.
Faltam médicos
Faltam médicos no país. Em algumas cidades,
esses profissionais simplesmente não existem. Em outras, há um
único médico para atender a centenas de pacientes por semana. O
sistema público de saúde tem a obrigação de suprir as
necessidades básicas do cidadão. Dentre elas, o de atendimento
médico.
E como fazer isso em um curto prazo? Como
conseguir levar médicos para os rincões mais distantes do país?
Entregar salários fabulosos que arrebentariam o próprio SUS seria
uma alternativa. Estúpida, mas ainda assim uma alternativa. É
claro, os doutores brasileiros prefeririam essa medida a qualquer
outra.
Pragmatismo de mercado
Se você já precisou ser atendido por um médico
de sistema público de saúde e ficou 2, 3 minutos na sala, quase
sendo expulso depois desse período, saiba que se trata de uma
prática absolutamente tradicional pelo Brasil inteiro e, a bem da
verdade, até hoje necessária para suprir a demanda dos pacientes
por médicos.
Funciona assim: o médico, para receber um valor
"x", deve trabalhar "y" horas, e atender a "w"
pacientes. Para ganhar mais dinheiro, eles comprimem o número de
pacientes em um número menor de horas, ganhando o mesmo "x"
e atendendo ao mesmo número "w" de pacientes, só que em
um número muito menor de horas, podendo atender em seus consultórios
particulares, em cidades menores da região etc.
Essa prática, altamente prejudicial para o
cidadão, tem sido a medida utilizada há décadas para colocar
médicos nas cidades menores e nas periferias. Disso, a classe médica
jamais reclamou. Mas o Governo Federal foi pragmático e corajoso o
bastante para enfrentar a classe médica e “importar” médicos de
onde eles sobram. De Cuba, no caso.
Os cubanos têm uma boa formação. Mais do que
isso: o doente dos rincões esquecidos do país não quer saber da
nacionalidade do médico. Quer ser amparado, tratado. E ponto. Se o
sujeito fala português, árabe ou javanês, não importa. E foi esse
o pragmatismo que levou o Governo Dilma a trazer esses profissionais
ao país, despertando a fúria dos setores conservadores da sociedade
– afinal, encaram os cubanos como comunistas escravos.
Medida Provisória
O ministro da Saúde, Alexandre Padilha, disse no
dia 18/10 que a expectativa é que, nas próximas semanas, o
Ministério da Saúde inicie a emissão dos registros provisórios
para os médicos estrangeiros do Programa Mais Médicos. A medida
provisória que transfere essa responsabilidade dos conselhos
regionais de medicina para o ministério ainda precisa ser sancionada
pela presidente Dilma Rousseff.
O ministro comentou a resistência dos conselhos
regionais em emitir os registros provisórios e disse não acreditar
em motivações políticas. “Se isso acontecer é inadmissível.
Estamos falando da saúde das pessoas que vivem em cidades ou bairros
onde não há médicos. Há posições de entidades médicas que são
todas elas legítimas, queriam debater o programa e fazer críticas.
Acho que o debate no Congresso Nacional aprimorou o projeto
original”, disse.
Padilha ainda fez uma avaliação dos resultados
obtidos durante o primeiro mês do Mais Médicos. Cerca de 3,6
milhões de brasileiros receberam atendimento, e 360 mil consultas
médicas foram realizadas pelos profissionais do programa, o que,
segundo ele, mostra que o que estava faltando era exatamente um
médico nas unidades.
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