Entre deslizes hollywoodianos, filme discute ética no jornalismo

Imagine um dia, quase de repente, se ver cercado por dezenas de câmeras fotográficas, fãs alucinados, luxo, glamour e poder. Todos querendo saber de tudo da sua vida, e um grupo de pessoas especialmente treinadas na arte do mal-caratismo se encarregando de abrir toda a sua intimidade para o público e distorcer a verdade para vender noticias. Sua vida, que prometia ser um paraíso, transforma-se em um inferno. Sua própria vida corre risco. E de sua família também. Tablóides sensacionalistas colocam você na primeira página, com fotos forjadas ou mal interpretadas, distorcendo qualquer tipo de verdade.

Esse é o enredo do filme Paparazzi (direção de Paul Abascal), e busca mostrar a vida do ator de cinema Bo Laramie (interpretado pelo ator Cole Hauser), que após a fama, passa a viver entre o inferno e a glória de sair do anonimato.

Paparazzis são fotógrafos especializados em perseguir gente famosa, mexer em seus detritos, se isso significar desvendar qualquer coisa sobre seu perseguido. Assim vivem as celebridades do mundo artístico, esportivo, cultural, da vida real. Cercadas por esses indivíduos.

No filme, no entanto, os paparazzis que perseguem Bo Laramie são despudoradamente endemonizados. Todos, sem exceção, já transgrediram leis por porte ilegal de armas, ou tentativa de estupro, ou outro crime pesado qualquer. Se a intenção de Paparazzi é discutir ética no jornalismo, certamente houve uma boa dose de sensacionalismo, no melhor estilo “tablóide britânico”.

Para os comunicadores de plantão

Mas muitos fatos podem ser entendidos como reflexos da realidade. Um deles é a atuação dos fotógrafos de celebridades em relação à invasão de privacidade. Esse é um ponto que suscita muitas discussões éticas e divergências de opiniões dentro do jornalismo, já que, em muitos casos, há explícita transgressão da lei para atender a interesses ditos públicos. Essa, talvez, seja a questão principal: interesse público. Há interesse público na revelação de intimidades de celebridades? Na maioria dos casos, não. Há apenas o interesse DO público, o que é bem diferente.

Se em alguns momentos há legitimidade na transgressão de leis por parte do jornalismo para atender ao interesse público na veiculação de informações, certamente não é o caso do que fazem os paparazzis, na maioria das vezes.

Os fotógrafos de celebridades que seguem uma conduta no mínimo antiética (quando não criminosa) são apenas uma engrenagem de uma grande fábrica: a do entretenimento. Os veículos de imprensa que se encarregam de veicular essas fotos e informações distorcidas são os elementos que conformam, juntamente com o público receptor, essa máquina. Afinal, não é o público quem compra os jornais e programas para atender a suas curiosidades, compactuando com atos, por vezes, criminosos? Não teriam também um quinhão dessa culpa?

A imprensa possui um enorme poder em sua mão, uma vez que é ela quem detem informações que conformarão as opiniões do público. Se essa imprensa atua de forma criminosa, distorcendo informações e consequentemente impedindo que o público conforme opiniões em acordo com a realidade, ela deve ser desmontada e reestruturada de forma a atender melhor aos interesses públicos. E essa é uma discussão que deve envolver toda a sociedade, pois é ela a maior afetada pelos desvios da imprensa que ela mesma fomenta.

No caso da imprensa brasileira, há uma clara manipulação de conteúdos jornalísticos e distorções de fatos. Mas não é pior do que a imprensa de outros países. Se muito, é igual. Vejamos, por exemplo, a matéria de Larry Roter, repórter do New York Times. Condutas antiéticas não são exclusividades de paparazzis, que muito sofrivelmente podem ser chamados de jornalistas. Colunistas de grandes rádios, no dia do acidente com o avião da TAM em São Paulo, chamavam o governo de assassino, sem ter qualquer informação que comprovasse tais afirmativas.

O jornalismo tem, em seu DNA, dessas coisas. A glória por um lado. O inferno por outro. Tal como a celebridade do filme Paparazzi.

Comentários

Anônimo disse…
Sim, provavelmente por isso e