Um formidável momento de reflexão

Formidável o ato de protesto hoje, bem em frente ao Clube Sorocabano, Praça da Matriz, centrão de Sorocaba. Um caminhão de som com uma dúzia de sindicalistas fazia sua peregrinação contra a crise econômica mundial, "que ainda não atingiu em cheio o Brasil", como disseram. Bem, foram poucas as pessoas (meu chutômetro contou umas 200) que tiveram a possibilidade de ouvir uma nova manifestação das centrais CUT e CGT, que rendeu material para, no mínimo, gerar reflexões. [1]
Enquanto carros se espremiam tentando passar pela meia-pista que sobrou com a presença do caminhão, ouvintes puderam pensar: qual o motivo que leva fábricas de automóveis, bancos com faturamento recorde, e outras gigantes da indústria nacional, a demitirem funcionários em massa, culpando a crise? O que leva o Santander a demitir funcionários, se teve um dos maiores lucros de sua história? Por que faltam carros no mercado de hoje?
Há algum tempo, Izídio de Brito Correia, então Presidente do Sindicato dos Metalúrgicos, sentiu na pele o que leva à falta de freios do mercado: a ZF, importante indústria metalúrgica, queria demitir um monte de empregados, e a massa trabalhadora se negava a protestar. Izídio quase arrancou os cabelos sem entender... O motivo: Salvamento! De quem? De si próprio, do próprio emprego. Medo, medo e medo!!! O mesmo vilão que poderá levar à flexibilização de leis trabalhistas.
O que é formidável nesse ato de protesto, afinal?
Enquanto o empresariado mau-caráter enfia capitais em aplicações que não geram um único, escasso prego, mas apenas, e magicamente, montanhas de dinheiro (em aplicações risco - depois quebram e ninguém sabe o porquê), a classe trabalhadora se amesquinha, se esquece de seu passado, não recorda as lutas que seus antepassados travaram para que fossem vistos como seres humanos (não sei se são vistos assim hoje, desconfio que não), que tivessem dignidade e não fossem apêndices de máquinas. Que tivessem consciência de classe, afinal.
Bem, formidável que tenham ao menos podido refletir sobre isso, que a manifestação não foi reprimida por cassetetes e bombas. Mas acredito que quem está mesmo reprimido é o trabalhador. Reprimido por um sistema produtivo que ele é incapaz de combater. Por empresários que pedem redução de juros, "mas que se dane o trabalhador". Pelo lucro gigante que não aparece em seu bolso.
Formidável. Abaixo o sistema atual, os empresários maus-caráteres. Abaixo Paulo Scaff e a cara-de-pau dele (e da mídia que o coloca no centro de tudo, jamais questionando).Viva a UTOPIA, que pode ao menos servir de ponto de referência. Vivamos o formidável momento de hoje: tempo fecundo para fundar uma nova ideologia, que dirija a ação da classe trabalhadora, e que a coloque como centro do sistema produtivo.

Em tempo: a manifestação aconteceu no mesmo dia em que o Presidente Lula recebeu 4.500 prefeitos de todo o Brasil para anunciar um pacote de ajuda e combate à crise (ampliação do prazo de parcelamento das dívidas de municípios de 60 meses para até 20 anos. Ao regularizar a situação - inclusive de calote anterior - o município poderá assinar convênios do PAC e receber repasses do Governo Federal). Amanhã haverá novo encontro.

[1] Jornais falam em 200 líderes sindicais. Me refiro somente ao momento em que vi líderes sobre o caminhão, assim como "chuto" 200 pessoas vendo o movimento. Certamente eram, ao todo, muito mais do que meia dúzia de líderes e 200 pessoas.

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