A justa palavra e o Dantesco Gilmar Mendes

A justa palavra é aquela que exprime, enquanto corta e recorta do mundo o seu pedaço mais saboroso/rançoso e expressivo. É a palavra que exprime e o mundo que nos fala. Pergunto, qual a "justa palavra" que representa o sujeito aí embaixo? Aliás, qual a justa palavra que representa o STF de hoje?
O Dantesco (não de Dante Alighieri, mas de Daniel Dantas) Gilmar Mendes
O Dantesco em questão, que não costuma dar entrevistas (como inacreditavelmente afirmou sua assessoria à CartaCapital) agora deu para classificar as perguntas dos jornalistas ("essa é desrespeitosa", essa isso, essa aquilo), enquanto posa de defensor dos direitos de expressão (leia-se manifestações, passeatas, protestos de toda sorte), como diz nesse vídeo (que assisti no blog do PHA):

Gilmar Mendes, como se sabe, fala abertamente sobre tudo a quem lhe faz uma pergunta e dirige um holofote. Qual a natureza última dessa ação? Tornar sua imagem pública para, futuramente, candidatar-se a vaga do Poder Executivo (Presidência da República, por exemplo)? Não, absolutamente. Sua intenção é, antes, perpetuar a imagem (Mito) de um Poder Transparente, translúcido até, que lhe legitima a ação, uma vez que submete essa ação ao crivo da crítica popular (como se lhe desse ouvidos). Manter esse Mito de transparência é essencial para manter a Ordem atual intocada, para castrar toda a possibilidade de subversão popular ante a ação ditatorial - mas transparente e antes lhe submetida à crítica - de um Poder que extrapola e quer manter-se (em momentos, extrapolar é condição para manter-se). Como afirma Barthes, o lugar do mito é, estatísticamente, a direita. Nesse aspecto, o Dantesco Mendes é apenas um figurante, que busca manter inalterado o quadro de opressão social atual, retratado pelos extratos sociais que garantem as figuras de oprimido e opressor. Para finalizar, mais Barthes:
"O oprimido não é coisa nenhuma, possui apenas uma fala, a de sua emancipação, o opressor é tudo, a sua fala é rica, multiforme, maleável, dispõe de todos os graus possíveis de dignidade: tem a posse exclusiva da metalinguagem. O oprimido faz o mundo, possui apenas uma linguagem ativa, transitiva (política). O opressor conserva o mundo, a sua fala é plenária, intransitiva, gestual, teatral: é o Mito; a linguagem do oprimido tem como objetivo a transformação, a linguagem do opressor, a eternização".
Que fique claro: a condição para que Gilmar Mendes abra a boca é fazer-lhe uma pergunta. Responder a ela coerentemente depende de quanto essa pergunta está enquadrada nos limites que garantem um não-esclarecimento esclarecedor. Aqui, ele é quase um mártir da direita: Submete sua imagem ao ridículo (e arrasta pelo lodo a instituição que representa - e o próprio povo, em última instância) para manter inalterada a ordem do Poder que ele possui e representa (não mais o Legislativo, mas o opressor). É a sociedade partida em duas: um lado legitimadamente dominador, o outro, coerentemente estilhaçado e oprimido.

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