A oposição entre ética e política no cenário brasileiro desencoraja o cidadão comum, mas é prato cheio para aquele que age de forma oportunista
Peço licença ao leitor, acostumado com uma análise rápida de algum assunto político impressa nesta coluna, para fazer um passeio histórico que, penso, poderá auxiliar a entender melhor a dita “mudança de casaca” daqueles que, outrora oposição, atuam da mesma forma que os criticados, quando na situação. Inicio com uma pergunta: até que ponto é possível reaproximar a ética da política?
Essa questão, de certa forma, sempre esteve presente no “fazer político”, quer na antiguidade, quando a ética mantinha forte relação com a política (magnificamente abordada por Aristóteles); quer na modernidade, quando essa relação foi rompida, especialmente com o pensamento de Nicolau Maquiavel; quer, ainda, nos dias de hoje, em que parece não haver qualquer compatibilidade entre uma e outra coisa.
Enquanto para Aristóteles a política visava o “sumo bem”, concebendo as coisas como “deveriam ser”, encharcadas de ética e determinadas por ela, para Maquiavel a política despreza o “dever ser”, prevalecendo o “como é de fato”. Maquiavel, fundador do republicanismo moderno, acreditava que qualquer método que alcançasse o interesse público era válido.
O sociólogo alemão Max Weber definiu bem a relação de ética e política, pragmaticamente dividindo a ética em duas vertentes: aquela seguida pelos cidadãos comuns, e aquela pelo político. A primeira ele chamou de ética da convicção, e a segunda, ética da responsabilidade.
A segunda categoria ética é o que nos interessa. Max Weber, de certa forma, “amenizou” o “como é de fato” de Maquiavel utilizando-se do termo “ética da responsabilidade”. Ou seja, nem tudo vale para se alcançar o interesse público, mas deve-se passar por cima de algumas convicções, caso necessário, para alcançá-lo.
É justamente essa concepção de ética, ou seja, a “ética da responsabilidade”, que explica a mudança de postura de políticos que, na oposição, apregoavam uma ação, na situação, agem de forma dissonante do defendido outrora. Mas veja: é diferente mudar de posição por responsabilidade, e mudar por oportunismo puro e simples – e esse segundo caso é o mais constante.
Em um país de democracia representativa e pouca participação política, como é o Brasil, tem a ética da responsabilidade o papel de manter o país “funcionando” – em prol de um dito “bem comum”. Interessante é ver que a demagogia, nesse campo político, funciona como o “cimento” que garante a coesão social e política – especialmente entre os próprios políticos.
Infelizmente não existe um manual que explique como votar em um candidato que busca a reaproximação entre ética e política, e apenas acreditar em discursos que apregoam essa união é ineficaz. Fica uma pista: vote naquele cuja história de vida mais se mostrou condizente com a luta pelo bem comum.
Texto publicado na revista Outdoor Regional de 15/07/2010
Comentários