Enquanto nós dormíamos...


Entenda o funcionamento do suposto esquema de compra de votos de parlamentares, batizado de Mensalão, e cujo julgamento se espera há anos.

O procurador-geral da República, Roberto Gurgel, pediu a condenação de 36 dos 38 réus do maior julgamento da história recente do país: o mensalão que, nas palavras do próprio Gurgel, foi o “mais atrevido e escandaloso caso de corrupção” que o país já assistiu.
Gurgel pede a expedição dos mandados de prisão tão logo se encerre o julgamento. A decisão sobre a prisão cabe aos 11 ministros do Supremo Tribunal Federal. Caso determinada, os réus condenados serão presos imediatamente após a decisão final. O julgamento do Mensalão começou no dia 02 de agosto, quando o Ministro Joaquim Barbosa leu o resumo da ação. No dia 3, Gurgel se pronunciou pedindo por fim a condenação dos réus. No dia 6, os advogados de defesa começaram a se pronunciar. Em setembro, devemos conhecer todas as consequências desse julgamento.

O Mensalão
O caso conhecido como Mensalão seria um esquema ilegal de arrecadação de recursos com a finalidade de pagar parlamentares para votarem pela aprovação, no Congresso, de matérias do interesse do governo Luiz Inácio Lula da Silva.
O caso conhecido como Mensalão seria um esquema ilegal de arrecadação de recursos com a finalidade de pagar parlamentares para aprovarem matérias do interesse do Governo.
“Foi o mais atrevido e escandaloso caso de corrupção, de desvio de dinheiro público flagrado no Brasil. Maculou gravemente a República. Foi um sistema de enorme movimentação financeira com objetivo de comprar votos de parlamentares nas matérias importantes para os líderes criminosos”, afirmou, se referindo aos acusados do núcleo político do suposto grupo: José Dirceu, ex-ministro da Casa Civil, o ex-presidente do PT, José Genoino, e o ex-tesoureiro do PT, Delúbio Soares.
Apenas dois acusados, dos 38, não tiveram provas suficientes elencadas para que fosse pedida a condenação deles: o ex-ministro das Comunicações, Luiz Gushiken e Antônio Lamas, irmão de outro réu.
No início do processo, intelectuais, petistas e membros de partidos aliados tentaram justificar o Mensalão com a afirmação de que se tratava de uma questão de sobrevivência, para a qual recorriam outros partidos oposicionistas quando foram governo.

Os cabeças

Para Roberto Gurgel, José Dirceu, ex-deputado e ex-Chefe da Casa Civil, braço direito de Luiz Inácio Lula da Silva, seria o líder do suposto esquema de compra de votos. Dirceu negou ter utilizado o cargo de ministro para beneficiar os empresários que teriam repassado dinheiro para o suposto esquema. As negociações não partiriam do governo e ele não teria controle sobre as finanças do PT.
Gurgel discorda. Para ele, absolutamente nada aconteceria sem a prévia autorização de Dirceu. Seria ele a principal figura de todo o esquema apurado. “Foi José Dirceu quem formatou sistema ilícito da formação da base aliada mediante pagamento ilícito”. Para Gurgel, Dirceu “comandou os demais integrantes para a consecução de seus objetivos”; ele teria sido o autor intelectual do esquema, aquele que “não envia mensagem, não movimenta contas, age por intermédio de laranjas, não se relaciona diretamente com secundários da quadrilha, não deixando rastros facilmente perceptíveis”, relatou Gurgel na Suprema Corte.
Já o grande operador do Mensalão seria o publicitário Marcos Valério, cujo papel se tornava cada vez mais importante no esquema, que ganhava corpo dia a dia, a cada nova negociação. Segundo a tese defendida por Gurgel, Dirceu foi o mentor do esquema, enquanto Valério foi seu principal operador.

O mecanismo
O mecanismo do Mensalão, segundo Gurgel, ocorreria dessa forma: após os acordos serem devidamente efetuados com partidos da base aliada e parlamentares, Marcos Valério, o suposto operador do Mensalão, era acionado para providenciar o dinheiro. Esse dinheiro seria entregue aos destinatários indicados por Delúbio Soares, ex-tesoureiro do Partido dos Trabalhadores.
Para Gurgel, todos os pagamentos estão devidamente registrados e comprovados nos autos do processo. Alguns pagamentos chegavam a ser semanais, com dinheiro vivo retirado na boca do caixa de agências do Banco Rural.

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