Tejo: lembranças


É pequeno e frágil o "corguinho" que circunda meu bairro, lá no sertão. O bairro cujo nome pouquíssimas pessoas já ouviram. Ele carrega em suas águas todas as minhas lembranças mais doces e mais amargas. Em suas águas, de tempos em tempos, vejo o tempo passar e deixar suas marcas em mim. O corguinho não se importa com o tempo, ele está sempre lá. E comigo.

Toda vez que o vejo, que o sinto, me lembro desse belíssimo poema de Pessoa. Nenhum toca mais a alma do exilado quanto esse pequeno poema...

"O Tejo é mais belo que o rio que corre pela minha aldeia, 
Mas o Tejo não é mais belo que o rio que corre pela minha aldeia
Porque o Tejo não é o rio que corre pela minha aldeia. 

O Tejo tem grandes navios 
E navega nele ainda, 
Para aqueles que vêem em tudo o que lá não está,
A memória das naus.
O Tejo desce de Espanha
E o Tejo entra no mar em Portugal.
Toda a gente sabe isso.
Mas poucos sabem qual é o rio da minha aldeia
E para onde ele vai
E donde ele vem.
E por isso porque pertence a menos gente, 
É mais livre e maior o rio da minha aldeia.

Pelo Tejo vai-se para o Mundo.
Para além do Tejo há a América
E a fortuna daqueles que a encontram.
Ninguém nunca pensou no que há para além
Do rio da minha aldeia.

O rio da minha aldeia não faz pensar em nada.
Quem está ao pé dele está só ao pé dele".

Alberto Caeiro

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