41 trechos da obra "Sobre a Escrita", de Stephen King, que podem fazer toda a diferença para seu texto

Trago ao intrépido leitor as seleções de trechos que fiz do livro "Sobre a Escrita" - A Arte Em Memórias, de Stephen King. Não é uma seleção dos melhores (ou completos) trechos, mas dos trechos mais importantes (na minha avaliação) para quem quer se aventurar na arte da escrita criativa. São 41 trechos, que reproduzo apressadamente a seguir:

1 - Evite a voz passiva.
2 - Você também deve ter percebido que fica muito mais simples entender o pensamento quando é dividido em dois. Assim fica mais fácil para o leitor, e ele deve ser sua maior preocupação sempre.
3 - Advérbio não é seu amigo.
4 - (...) que você só use advérbios com verbos dicendi na ocasião mais rara e especial de todas... e nem mesmo nessa hora, se puder evitar.
5 - Estou convencido de que o medo é a raiz de toda má escrita.
6 - Em prosa expositiva, os parágrafos podem (e devem) ser organizados e utilitários. O parágrafo expositivo ideal contém uma frase síntese seguida por outras frases que explicam ou ampliam a primeira.
7 - A estrutura frase-síntese-seguida-de-frases-descritivas-e-complementares exige que o escritor organize os pensamentos e também evita que fuja do tema.
8 - Na ficção, o parágrafo é menos estruturado — é a batida, não a melodia.
9 - O parágrafo de uma única frase lembra mais a fala que a escrita, e isso é bom. Escrever é seduzir.
10 - (...) “leia muito, escreva muito” é o Grande Mandamento
11 - Escreva o que quiser, depois encharque a história de vida e a torne única, acrescentando seu conhecimento pessoal e intransferível do mundo, da amizade, do amor, do sexo e do trabalho. Especialmente do trabalho.
12 - De meu ponto de vista, histórias e romances se dividem em três partes: narração, que leva a história do ponto A para o ponto B e, por fim, até o ponto Z; descrição, que cria uma realidade sensorial para o leitor; e diálogo, que dá vida aos personagens através do discurso.
13 - A situação vem primeiro. Os personagens — sempre rasos e sem características, no início — vêm depois.
14 - Geralmente, as situações mais interessantes podem ser expressas como uma pergunta do tipo “e se”.
15 - A descrição é o que transforma o leitor em um participante sensorial da história.
16 - Acho que o cenário e a textura são muito mais importantes para que o leitor se sinta dentro da história do que qualquer descrição física dos personagens.
17 - Para mim, a boa descrição consiste em apenas alguns detalhes bem-escolhidos que vão falar por todo o resto.
18 - (...) comparar duas coisas que, aparentemente, não têm qualquer relação entre si — um bar e uma caverna, um espelho e uma miragem —, às vezes conseguimos ver algo velho de forma nova e vívida.
19 - (...) chave para a boa descrição começa com uma visão clara e termina com uma escrita clara, do tipo que usa imagens novas e vocabulário simples. Comecei
20 - "diálogo [é] a parte auditiva".
21 - (...) uma das principais regras da boa ficção é nunca dizer algo que você pode, em vez disso, nos mostrar.
22 - Acho que as melhores histórias sempre são sobre pessoas, e não sobre acontecimentos,
23 - Annie Wilkes, a enfermeira que aprisionou Paul Sheldon em Misery, pode nos parecer uma psicopata, mas é importante lembrar que ela aparenta ser perfeitamente sã e razoável para si mesma — heroica, na verdade. Uma mulher sitiada tentando sobreviver em um mundo hostil cheio de velhos trapaceiros. Nós a vemos passar por perigosas mudanças de humor, mas tentei não ser direto e dizer que “Annie estava deprimida e talvez até com tendências suicidas naquele dia” ou que “Annie parecia particularmente feliz naquele dia”. Se eu tiver que dizer ao leitor, eu perco. Se, por outro lado, eu conseguir mostrar uma mulher calada, de cabelos sujos, que come bolos e doces compulsivamente, e você chegar à conclusão de que Annie está no momento de depressão do ciclo maníaco-depressivo, eu ganho. E se eu conseguir, mesmo que apenas por um momento, fazer você enxergar o mundo pelos olhos dela — entender sua loucura —, talvez também consiga fazer de Annie alguém com quem você simpatize ou mesmo se identifique. O resultado? Ela se torna mais assustadora do que nunca, porque parece mais real. Se, por outro lado, eu a transformar em uma velhota enrugada e escandalosa, ela se tornará mais uma das mulheres malvadas que se veem por aí nos livros. Nesse caso, eu perco feio, e o leitor também. Quem gostaria de acompanhar uma megera tão démodé? Esta versão de Annie já era velha quando O mágico de Oz foi lançado.
24 - A segunda versão serve, por exemplo, para trabalhar o simbolismo e o tema.
25 - (...) uso da violência como solução está entrelaçado à natureza humana, como uma linha vermelha amaldiçoada.
26 - Quero encerrar este pequeno sermão com um aviso: começar com as questões e as preocupações temáticas é receita certa para má ficção. A boa ficção sempre começa com a história e progride até chegar ao tema, ela quase nunca começa com o tema e progride até chegar à história.
27 - Uma vez que sua história esteja no papel, porém, é preciso pensar no que ela significa e enriquecer as versões posteriores com suas conclusões. Fazer menos que isso é privar seu trabalho (e, por consequência, seus leitores) da visão que faz de cada história que você escreve única.
28 - (...) eliminar pronomes ambíguos (eu odeio pronomes, não confio neles; são todos escorregadios como um advogado de porta de cadeia), incluir frases esclarecedoras onde forem necessárias e, é claro, eliminar todos os advérbios que eu puder (nunca consigo eliminar todos; nunca é o suficiente).
29 - (...) na segunda versão vou querer incluir cenas e incidentes que reforcem esse sentido.
30 - (...) Chame a pessoa para quem você escreve de Leitor Ideal.
31 - O LI [leito ideal] vai ajudá-lo a sair um pouco de si mesmo, a realmente ler sua obra inacabada como o público leria, enquanto ainda estiver trabalhando nela.
32 - O ritmo é a velocidade com que a narrativa se desenrola. Existe, nos círculos editoriais, uma crença tácita (logo, não defendida e não confirmada) de que as histórias mais bem-sucedidas comercialmente têm ritmo vertiginoso.
33 - Acredito que todas as histórias devem se desenvolver em seu próprio ritmo, que nem sempre precisa ser acelerado.
34 - Quando penso em ritmo, costumo recorrer a Elmore Leonard, que o explicou perfeitamente ao dizer que apenas tirava as partes chatas. Isso quer dizer que você deve cortar alguns trechos se quiser aumentar o ritmo, e é o que a maioria acaba tendo que fazer (mate
35 - “Não está ruim, mas está INCHADO. Reveja o tamanho. Fórmula: 2ª versão = 1ª versão – 10%. Boa sorte”. [Fórmula para encontrar o tamnaho ideal da história]
36 - O que a Fórmula me ensinou é que todas as histórias e todos os romances são, até certo ponto, reduzíveis.
37 - O pano de fundo é tudo o que aconteceu antes de sua história começar, mas tem algum impacto no enredo principal. Ele ajuda a definir os personagens e a estabelecer suas motivações. Acho que é importante inserir o pano de fundo o mais rápido possível, mas também é importante fazer isso com graça.
38 - Você já deve ter ouvido a expressão “in medias res”, que significa “no meio das coisas”. Essa é uma técnica antiga e digna, mas eu não gosto dela. A estratégia in medias res requer flashbacks, que considero enfadonhos e um tanto bregas.
39 - As coisas mais importantes a lembrar sobre o pano de fundo são: a) todo mundo tem uma história, e b) a maior parte dela não é muito interessante. Concentre-se nas partes que são e não se deixe levar pelo resto. Longas histórias de vida são mais bem-recebidas em um balcão de bar, e só quando falta uma hora ou menos para fechar, e só quando você está pagando.
40 - Precisamos conversar um pouco sobre pesquisa, que é um tipo de pano de fundo especializado. E se você precisa fazer pesquisa, porque algumas partes de sua história tratam de coisas sobre as quais você sabe muito pouco ou nada, lembre-se sempre de que é o pano de fundo dos acontecimentos. É lá que a pesquisa deve ficar: tão no fundo quanto possível, misturada ao máximo no contexto.
41 - (...) senso de realidade é importante em qualquer trabalho de ficção, mas acho ainda mais importante em histórias que lidem com o anormal ou paranormal.

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